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A antecipar o primeiro dia dos Cursos, um programa que nos mostra o percurso do violino solista no repertório do séc. XVIII português.
Este programa centra-se num conjunto de obras diretamente ligadas ao percurso do violino como instrumento solista em Portugal no séc. XVIII. Desde o início do século, com marcada influência ibérica polifónica, até ao final, em que o cunho italiano era já predominante no gosto musical português, procura-se reconstituir este percurso através de indícios preservados em coletâneas manuscritas e de elementos biográficos de um conjunto de personalidades ligadas à nossa história musical. O violino surge aqui acompanhado pelo baixo contínuo, núcleo fundamental da prática musical barroca, refletindo a opção pelo violoncelo e pelo cravo ou pelo órgão, alternadamente – como instrumento de realização da harmonia improvisada prevista pelos compositores –, também o que terão sido os instrumentos utilizados em Portugal na época, na generalidade da prática musical doméstica e conventual.
Nas fontes portuguesas para órgão de finais de Seiscentos e início de Setecentos, de que é exemplo o Libro de Cyffra da Biblioteca do Porto, encontramos um conjunto de obras que indicia uma escrita melódica que transcende a simples execução da tradição organística ibérica. À medida que avançamos no tempo e que assistimos à conhecida italianização do gosto musical português, observamos como autores de primeira importância como Carlos Seixas e Domenico Scarlatti dedicam ao violino uma atenção marginal, mas não por isso menos inspirada, nas suas imensas produções de música de tecla; e vemos ainda aparecer a figura singular de Pedro Lopes Nogueira, que produz em 1720 a Casta de Lisões, obra rara e da maior importância na prática violinística em Portugal no séc. XVIII. A afluência de músicos à Real Câmara em largas dezenas terá contribuído para que o chamado Estilo Galante florescesse e se mantivesse vivo nas gerações seguintes à de Seixas – caso de Francisco Xavier Baptista, que dedica ao violino uma sonata, preservada em cópia manuscrita na Biblioteca Municipal de Elvas; sabemos ainda como a transcrição era um hábito quotidiano em Portugal, sendo usadas para o efeito as coleções publicadas de sonatas para tecla de autores como Xavier Baptista ou Alberto José Gomes da Silva. Já Giuseppe Tartini, um dos mais reconhecidos virtuosos do violino de todo o século XVIII, conheceu, em Itália, o Abade António da Costa (1714-1780), polímata que hoje conhecemos sobretudo como epistológrafo, a quem dedicou uma sonata sopra lo stile che suona il Prette dalla Chitarra Portoghese. O Abade da Costa, que se moveu nos melhores círculos intelectuais da Europa das Luzes, permanece uma das figuras mais enigmáticas entre os “estrangeirados” portugueses. Todo este programa, no fundo, parte de uma influência estrangeira e das muitas possibilidades da sua recondução a uma sensibilidade portuguesa.»
José Carlos Araújo
SONATAS IBÉRICAS DO SÉC XVIII
Raquel Cravino, violino barroco
Ana Raquel Pinheiro, violoncelo barroco
José Carlos Araújo, cravo
PROGRAMA
José de Torres (1665-1738)
Canção de 7.º tom
Canção de 2.º tom
(Libro de Cyfra, 1703, Biblioteca do Porto)
Carlos Seixas (1704-1742)
Sonata em Ré menor, K. 30
Sonata em Sol menor, K. 31
Pedro Lopes Nogueira (1686-1770?)
Lições 7 & 8
(Casta de Lisões, 1720)
Francisco Xavier Baptista (1742-1797)
Sonata em Sol maior para violino e címbalo
obrigado
(allegro – rondó: allegro)
Giuseppe Tartini (1692-1770)
Sonata sopra lo stile che suona il Prette
dalla Chitarra Portoghese, BA4
(allegro – andante – allegro – minuetto)
Domenico Scarlatti (1685-1757)
Sonata em Fá maior, K. 85
Sonata em Fá maior, K. 94
(minuete)
Sonata em Ré menor K. 77
(moderato e cantabile – minuete)
Capriccio em Sol maior, K. 63
(allegro)
O acesso ao concerto implica a aquisição de um título de entrada na Casa de Mateus, no valor mínimo de 6,00 €. Aproveite e viva toda a experiência de Mateus, aderindo a um dos modelos de visita à sua disposição.
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