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Ao fim de uma tarde do início do Outono, um repertório contemporâneo e vibrante, com obras de Taffanel, Ligeti, Ibert e Piazzolla.
Pelo segundo fim de semana consecutivo, a Associação Portuguesa dos Amigos da Música anima as paisagens de Mateus, desta vez em forma de quinteto de sopros, uma das formas clássicas dos concertos de câmara. Depois do repertório dos períodos clássico e romântico, poderemos agora ouvir um conjunto de obras vibrantes que dão corpo a uma panorâmica sobre a transição do séc. XIX para o séc. XX e a música contemporânea, com obras de Paul Taffannel, György Ligeti, Jacques Ibert e Astor Piazzolla.
«A Associação Portuguesa do Amigos da Música tem como um dos seus manifestos fazer música de câmara. Esta, em conceito, é proximidade entre músicos, compositores e público. É assim, desde o início e sempre, e esta associação, aqui em parceria com a Fundação Casa de Mateus, pretende transportar esse espírito democrático, altruísta e humanista para o nosso tempo, o nosso país, e promover o que tão bem sabemos fazer, criando um movimento que seja inclusivo de toda a gente. Neste programa são apresentadas 4 obras para quinteto de sopros que desafiam a um grande virtuosismo por parte dos intérpretes e a uma escuta atenta e curiosa!»
Associação Portuguesa dos Amigos da Música
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS AMIGOS DA MÚSICA
Paul Taffanel (1844/1908)
Quinteto em Sol menor
György Ligeti (1923/2006)
Seis Bagatelas
Jacques Ibert (1890/1962)
Três Peças Breves
Astor Piazzolla (1921/1992)
Libertango
QUINTETO DE SOPROS
Nuno Pinto (clarinete)
Luís Alves (oboé)
Ana Maria Ribeiro (flauta)
Pedro Silva (fagote)
Dário Ribeiro (trompa)
O acesso está sujeito à obtenção de um título de entrada na Casa, no valor mínimo de 6,00 €. Em alternativa, aproveite uma das modalidades de Visita à Casa, com inclusão do acesso ao evento.
Para mais informações, contacte-nos através do seguinte e-mail: cultura@casademateus.pt.
Notas ao Programa
Francisco Soares de Melo
Quatro Quintetos de Sopros no intervalo de 100 anos, entre o Romantismo e o Modernismo
As Notas de Programa da semana passada começavam com uma pergunta pertinente: será a Música de Câmara um “parente pobre” da música clássica? Não, de modo algum! A exigência técnica e expressiva da Música de Câmara é muito alta, pois cada parte é autónoma e individualizada. A sua ascensão acontece durante os séculos XVII e XVIII, a que corresponde o período barroco. A designação italiana “da camera” corresponde ao lugar onde é interpretada: não é na igreja (“da chiesa”) nem no teatro (ópera), mas sim nos salões da corte ou nas salas da burguesia. Em 1752, o compositor Quantz, músico da corte do imperador Frederico II da Prússia durante 32 anos, elogiava-a com as seguintes palavras, no seu tratado: “o estilo de câmara permite uma maior elaboração e artifício que o estilo teatral”.
A partir do período clássico, que se inicia cerca de 1750, a música de câmara separa-se da música concertante, passando esta a ser para um público que enchia grandes salas, e reunindo instrumentos, coro e orquestra. De entre os principais agrupamentos de música de câmara, destacam-se o Quarteto de Cordas (1º violino, 2º violino, viola de arco e violoncelo) e o Quinteto de Sopros (flauta, oboé, clarinete, fagote e trompa). O primeiro que emerge é o Quarteto de Cordas, nomeadamente por intermédio dos paladinos do classicismo: Haydn, com mais de 70 quartetos, e Mozart, com 24. A junção das cordas com os sopros origina grande variedade de agrupamentos de câmara, destacando-se o Quinteto que reúne o Quarteto de Cordas com o Clarinete, que ouvimos neste local há uma semana.
Por sua vez, Quinteto de Sopros mostra a grande variedade, riqueza tímbrica e expressiva dos instrumentos que fazem parte da orquestra, nomeadamente a secção denominada “Madeiras”: Flauta, Oboé, Clarinete e Fagote. A Trompa completa o conjunto, mas pertence aos “Metais”, juntamente com a Trompete, o Trombone e a Tuba. Vale a pena fazer algumas considerações sobre o que distingue o grupo das Madeiras e dos Metais, pois é um pouco equívoca a sua designação: de facto, o que vibra é o Ar que está contido no tubo sonoro, activado pelo sopro do instrumentista. Daí, o termo “Sopros” associa-se ao termo físico “Aerofones”, criado no início do século XX por Hornbostel e Sachs. O material de que é feito o tubo é importante, mas não decisivo: veja-se a Flauta, que originalmente é feita de madeira, mas que desde o fim do século XIX é construída em metal. Assim, do ponto de vista acústico, o elemento essencial das “madeiras” é o tipo de embocadura: bisel (flauta), palheta simples (clarinete) ou palheta dupla (oboé e fagote). Por seu lado, todos os “metais” têm embocadura em forma de “bocal”, onde o executante apoia os lábios, que vibram como se fossem palhetas: daí, o nome acústico “palhetas labiais”. Outro aspecto diferenciador das duas famílias é a relação entre o diâmetro e o comprimento do tubo: relativamente mais largo nas madeiras e relativamente mais estreito nos metais. Observe-se, no quinteto de sopros, o Fagote e a Trompa: os comprimentos são muito semelhantes, mas a maior parte do tubo da trompa é relativamente estreito. Muito mais se poderia dizer sobre outros aspectos, como a forma cónica ou cilíndrica do tubo, mas avancemos.
O Reportório a ouvir hoje passa por 4 autores e 4 obras que foram estreadas entre 1876 a 1975 (101 anos de diferença), e mostra a variedade e expressividade da música entre os finais do século XIX, ainda no Romantismo, e o final do século XX, passando por vários Modernismos. A sequência da apresentação neste concerto é cronológica (relevando a troca de datas entre a 1ª peça e a 2ª). Assim, fica justificado o título escolhido para estas notas de programa: “Quatro Quintetos de Sopros no intervalo de 100 anos, entre o Romantismo e o Modernismo”.
Jacques Ibert - Três Peças Breves (1930)
Jacques Ibert (1890-1962) é um autor francês decididamente ligado a Paris, onde nasceu, estudou, trabalhou e faleceu com 71 anos. Viveu, como soldado, a terrível 1ª Guerra Mundial (1914-18), tendo ganho em 1919 o “Grand Prix de Rome”, que consistia precisamente em estudar na Itália durante 3 anos, na Villa Medicis em Roma. A sua obra é diversa, da ópera à música de ballet e à música para filmes, da música de câmara à de orquestra. O primeiro modernismo está associado a Debussy (simbolismo ou impressionismo), e Jacques Ibert insere-se num segundo modernismo.
As Três Peças Breves (Allegro; Andante; Assez lent) foram compostas em 1930, nos final dos denominados “loucos anos 20”, e na sua brevidade percorremos sonoridades doces a rudes, passando pelo requinte e beleza dos jogos entre as “vozes” dos instrumentos. O compositor H. Dutilleux refere-se nestes termos à sua música: “A arte de J. Ibert escapa à prova do tempo, ele é, antes de tudo, um clássico na forma. Mas que imaginação na ordem, mas que fantasia no equilíbrio, mas que sensibilidade no pudor!”
Paul Taffanel - Quinteto para Sopros em Sol menor (1876)
Paul Taffanel (1844, Bordéus – 1908, Paris) estudou flauta e composição no Conservatório de Paris e teve uma carreira brilhante. Foi flautista da Orquestra da Ópera de Paris e mais tarde o seu maestro. Relevante professor no Conservatório de Paris durante 15 anos, o seu trabalho pedagógico traduziu-se na criação de métodos para flauta e na revisão dos programas. Foi um dos fundadores da Société Nationale de Musique, em 25/02/1871, com a fina flor dos autores franceses, como Saint-Saëns, C. Franck, V. Fauré ou H. Duparc, destinada a reencontrar o espírito nacional francês e a desafiar o predomínio da tradição germânica.
O Quinteto de Sopros em sol menor foi criado em 1876 e tem três andamentos.
O Allegro tem um primeiro tema bem disposto e cheio de movimento. Segue-se uma segunda melodia, sonhadora e lírica.
O 2º andamento – Andante - tem um solo de trompa longo, encantador e nostálgico. Quando os restantes instrumentos se juntam, o ritmo acelera e a música anima-se.
O Vivace final é enérgico e arrebatador, faz lembrar uma conhecida dança italiana denominada tarantela (o nome deriva de tarântula, espécie de aranha).
György Ligeti - Seis Bagatelas (1953/69)
György Ligeti (1923, Transilvânia, Roménia – 2006, Viena de Áustria) é um dos compositores essenciais da 2.a metade do século XX, a par de nomes como Messiaen, Stockhausen ou Boulez.
A sua obra é recorrentemente tocada pelos grupos de música contemporânea, em particular neste ano, em que se comemora o seu centenário.
Após estudar no Conservatório de Budapeste, na Hungria, onde também foi professor 6 anos, cedo começou a contactar os círculos mais inovadores da composição.
Sendo judeu, toda a sua família foi perseguida pelos nazis: o pai e o irmão morreram em campos de concentração, mas a mãe conseguiu sobreviver a Auschwitz.
Após a invasão comunista russa da Hungria em 1956, foge para o ocidente e passa a viver entre Viena de Áustria, Colónia e Berlim-oeste.
Atmosphères (1961), para grande orquestra, é uma das suas peças mais conhecidas, tendo sido utilizada na banda sonora do filme 2001 Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick (1968). Nessa peça, bem como em Lux Aeterna para coro (1966), cria grandes massas sonoras, extremamente densas como se fosse uma nebulosa sonora, com pequenos detalhes contrapontísticos, numa técnica que o próprio designa por micro-polifonia.
Seis Bagatelas para Quinteto de sopros é uma peça que culmina a fase húngara da sua vida, num estilo próximo de Bartók e muito infuenciado pelo folclore do Leste da Europa, mas tendo enorme originalidade.
Inicialmente foi composta para piano, com o título Musica Ricercata, e constitui um verdadeiro exercício auto-imposto, em 11 partes: a 1ª peça tem apenas uma nota, o lá, em várias oitavas; a 2ª peça tem duas notas (cada uma delas também em várias oitavas); prosseguindo, em cada novo andamento acrescenta uma nota, culminando na peça nº 11, que tem todas as 12 notas, espalhadas por todas as oitavas do piano (escala cromática). A obra foi terminada ainda na Hungria em 1953, mas teve que esperar 13 anos pela estreia (1969).
Posteriormente, Ligeti transcreveu para Quinteto de Sopros as peças nº 3, 5, 7, 8, 9 e 10, dando origem à presente obra.
Antes de passar à 1ª bagatela, que corresponde à peça nº 3 de Música Ricercata, é interessante explicar como da peça para piano nº 2, com 2 notas, se passa para 4 notas: é que no final dessa peça aparece uma 3ª nota, de carácter pungente e perturbador, que Ligeti descreveu como “uma facada no coração de Estaline”. Não ouviremos nada disto, pois essa peça não foi incorporada nas bagatelas, mas fica o registo: uma profunda aversão à ditadura comunista e à opressão soviética, simbolizada pelo ditador Estaline.
A 1ª bagatela (Allegro con spirito) baseia-se apenas em 4 notas, com carácter dançante e ligeiro.
A 2ª (Rubato. Lamentoso) contém 6 notas e tem cor mais sombria, como um lamento.
A 3ª bagatela (Allegro grazioso) começa com uma melodia expansiva na flauta, com 8 notas, apoiada num espirituoso “basso ostinato” em staccato feito pelo fagote e clarinete. “Ostinato” significa “obstinado”, e o acompanhamento é repetido inúmeras vezes apoiando as outras vozes.
A 4ª bagatela (Presto ruvido) utiliza 9 notas, como uma vivacidade frenética, com ritmos tipicamente búlgaros.
A 5ª (Adagio. Mesto. Allegro) tem 10 notas e é expressamente dedicada à memória de Béla Bartók. Parece uma canção folclórica exuberante e cheia de acentuações irregulares.
A 6ºa bagatela (Molto vivace. Capriccioso), traz-nos um epílogo jubiloso e turbulento, com o uso da bitonalidade (duas tonalidades simultâneas) e métrica assimétrica (2/4 e 3/8). Com onze notas da escala cromática abrangendo todas as oitavas, é possivelmente a mais virtuosística do conjunto.
Astor Piazzolla – Libertango (1974)
Astor Piazzolla (1921, Mar del Plata -1992, Buenos Aires) é certamente o compositor que traz a este concerto a maior aproximação à dança, em particular ao tango.
Filho de italianos emigrados para a Argentina, aos 4 anos foi viver para Nova York com a família, em busca de melhores condições de vida. Além do espanhol, tornou-se fluente no inglês, italiano e francês e iniciou o seu grande interesse pela música.
Ao regressar de Nova Iorque, Piazzolla já mostra a forte influência do jazz. É considerado o compositor de tango mais importante da segunda metade do século XX, mas, quando começou a fazer inovações no ritmo, no timbre e na harmonia, foi criticado pelos tocadores de tango mais antigos.
Libertango foi gravada e editada em 1974 em Milão. O título resulta da junção da palavra "libertad" com "tango", e simboliza a ruptura de Piazzolla do tango clássico para o tango novo.
Assim, de modo dançante e feliz, se termina este percurso através de 101 anos de música.
Francisco Soares de Melo,
21/09/2023,
no 89º aniversário do nascimento do poeta, músico, cantor e compositor canadiano Leonard Cohen (21/09/1934, Westmount – 07/11/2016, Los Angeles)
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