O instrumento musical mais antigo alguma vez encontrado é uma flauta de osso produzida por um (ou uma) Neandertal, há perto de 42.000 anos. Aparentemente, fazer vibrar o ar terá sido, logo após a percussão, a forma humana de combinar sons e silêncios com um objetivo estético. Já a flauta de bisel, ou flauta doce, como a conhecemos hoje, aparece na Europa ao longo do séc. XV. É notável pela sua resposta rápida e pela sua correspondente capacidade de produzir uma grande variedade de articulações, de cores tonais e efeitos especiais.

É isso que permite ao flautista António Carrilho tomar partido de composições escritas expressamente para flauta, mas também construir arranjos, sempre novos e sempre subjetivos para peças escritas para outros instrumentos. A estética do barroco implicava, com efeito, uma margem importante de improvisação ligada à utilização do material musical já existente. A liberdade interpretativa também imperava e qualquer instrumento podia tocar qualquer obra, não obstante ter sido escrita para outro, em particular.

António Carrilho, nome histórico dos Encontros Internacionais de Música da Casa de Mateus, dos quais foi aluno e veio a ser professor e Diretor Pedagógico, é um instrumentista de excelência. Para este concerto, convida os cravistas Diego Fernández Rodriguez e José Carlos Araújo, não apenas para se encarregarem do baixo contínuo, característica peculiar da música barroca que faculta uma base harmónica e um impulso rítmico para as outras linhas musicais, mas para serem parte inteira num exercício de feliz reconstituição do prazer de executar e ouvir a música barroca.