Dia Mundial dos Monumentos e Sítios | 2025

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Dia Mundial dos Monumentos e Sítios | 2025 | As histórias da História
18 de Abril de 2025

Como escapou a Casa de Mateus aos saques das invasões francesas?

Hoje é o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios e o ICOMOS convida-nos a refletir sobre “Património resiliente face às catástrofes e conflitos”. Num momento marcado pela instabilidade internacional, em que regressamos ao tema da fronteira, da sua porosidade ou da sua defesa, aproveitamos as lições de História que as histórias da Casa nos proporcionam e regressamos ao início do século XIX e à ameaça napoleónica.

  

Em março de 1809, naquela que ficaria conhecida como a segunda invasão francesa, as tropas do Marechal Soult atravessam a fronteira norte, conquistam Chaves em dois dias e dirigem-se ao Porto, onde a fuga desordenada da população redunda na infame tragédia da Ponte das Barcas. Nos dois meses que se seguem, toda a Região conhece uma ocupação severa com consequências sérias no saque de património e na destruição e confisco de arquivos. A Casa de Mateus e o seu Arquivo, cujo acervo era já nesta altura secular e se encontrava sistematizado e preservado, escaparam, porém, incólumes. Ao procurarmos as razões para esta exceção, deparamos com algumas coincidências notáveis.  


Em 1802, sete anos antes, D. José Maria, o 5º Morgado de Mateus, cuja vida de embaixador se dedicara em boa parte a tentar evitar as ameaças espanhola e francesa, casara em Paris com Adélaïde Filleul, viúva do Conde de Flahault e autora de uma bem-sucedida obra literária. Ora, o Morgado era também ele viúvo, de D. Maria Teresa Soares de Noronha, morta apenas dois meses após o nascimento do único filho, D. José Luís de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos. E Adélaïde, agora conhecida como Madame de Sousa, tinha também ela um filho, Charles de Flahault, e consta que o pai seria o próprio Tayllerand, o todo-poderoso ministro de Napoleão.  


Nesta altura, em 1809, eram ambos jovens garbosos, em idade de se destacarem pela bravura e pela lealdade aos respetivos legados familiares. E, curiosamente, desempenhavam ambos papéis essenciais de um lado e do outro desta guerra: José Luís era ajudante-de-campo do Marechal Beresford, militar inglês que comandava as tropas portuguesas; Charles desempenhava as mesmas funções junto do General Murat, comandante máximo das tropas francesas que ocuparam a Península Ibérica. 


Embora seja pouco provável que, ao longo destes meses difíceis, se tenham encontrado na Casa que os pais habitavam e que ambos frequentavam, na Rue d’Anjou, em Paris, partilhavam uma história familiar e disporiam seguramente de meios de contacto. De que maneira a Casa se salvou da ocupação e do saque, continuamos a não saber ao certo. O que é certo é que, no final de maio de 1809, duas colunas, uma comandada pelo mítico general Arthur Wellesley que avançou pelo litoral sobre o Porto, e a outra pelo Marechal Beresford, que avançou pelo interior em direção à Régua e, daí, a Amarante, infligem a derrota final aos invasores franceses. A 2ª invasão estava rechaçada e a Casa de Mateus escapara incólume.  


Alguns anos mais tarde, em 1823, D. José Luís vê reconhecido o seu mérito militar e o seu génio político com a atribuição do título de 1º Conde de Vila Real por D. João VI, entretanto regressado do Brasil. Charles de Flahault, por seu lado, cai em desgraça com a queda de Napoleão Bonaparte, em 1814, e viverá muitos dos anos seguintes em Inglaterra. Sempre protegido pela mãe e por Tayllerand, regressa em 1830 – na sequência da revolução de Julho, que restabelece uma monarquia constitucional e aberta, sob o reinado de Louis-Philippe d’Orléans –, ainda a tempo de uma longa carreira diplomática. 


Curiosamente, alguns anos antes, em 1817, o jovem Louis-Philippe escrevera uma carta a D. José Maria, reclamando o seu direito a receber um exemplar da sua ‘magnífica’ edição de Os Lusíadas, que pode ser vista na Biblioteca da Casa de Mateus. Mas essa é já uma outra história, a que regressaremos em breve ainda a propósito do centenário do nascimento de Camões... Porque todas as histórias entroncam na História da Casa de Mateus.

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