Ao longo de 2023, a artista Anne Marie Maes instalou o seu atelier móvel, o Laboratório da Forma e da Matéria, nos terrenos envolventes da Casa de Mateus. Observou cuidadosamente as diferentes ecologias e respondeu com intervenções a aspetos específicos do vasto domínio. Explorou subtilmente ângulos que mostram o local de uma nova perspetiva. Com as suas intervenções, quebrou as rotinas diárias do local e fez com que olhássemos para o ambiente da Casa de Mateus com novos olhos. Juntamente com os outros artistas, criadores e cientistas envolvidos no projeto, no âmbito do projeto Escola das Transições, integrou estas impressões e dados de observação em obras de arte para contar novas histórias sobre este lugar extraordinário, a Casa de Mateus. A exposição é um um passo inicial na divulgação deste novo conhecimento. Uma publicação com contribuições de Teresa Albuquerque, Jonathan Minchin, Margarita Maximova, Alexander Gerner, Núria Conde Pueyo, José Luís Ferreira, Ferdinand Maier e Anne Marie Maes concluirá o projeto em abril de 2024.

"Aprendi sobre as florestas e flores silvestres ao longo da estrada, observei a colmeia escondida entre os velhos abetos e estudei o rio que, à medida que as estações avançavam, libertava cada vez um pouco mais do seu leito. Passeei pelas vinhas e recolhi materiais de trabalho nas hortas e pomares, e aguardo com expetativa a época dos cogumelos que se avizinha. A natureza continua a revelar-se através de uma microactividade constante onde bactérias, insectos, líquenes e outros organismos comunicam entre si através de trocas mútuas e relações simbióticas. Analisei meticulosamente os vários ambientes, estudando as inter-relações e as complexas camadas. Nos jardins barrocos, com os seus vastos canteiros de rosas e corredores de buxo escondidos, senti-me como a Alice no País das Maravilhas. O tempo que passei nesta residência fez-me olhar para as coisas uma e outra vez e descobrir novas particularidades. Os pormenores de uma folha, o cheiro da lã de ovelha, o toque da casca de uma árvore, o momento exato do dia em que uma flor abre as suas glândulas de néctar, a rota de voo específica de uma abelha, o crescimento de uma pera ao longo das estações, a riqueza de pigmentos de cor que se pode extrair de tudo isto. Um milhão de cores, um milhão de formas, uma atividade sem fim e muito mais do que aquilo que é visível ao olho humano..."

Anne Marie Maes

“Oh, lírio!", disse Alice, dirigindo-se a uma flor que se agitava graciosamente ao vento, "quem me dera que pudesses falar!” “Nós falamos", disse o lírio, "quando há alguém com quem valha a pena falar".

Alice do outro lado do espelho, Lewis Carroll