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Para um jardim de Manuel Casimiro
" Foi hoje pré-inaugurada na Fundação Casa de Mateus, em Vila Real, uma das mais representativas obras de Manuel Casimiro: Jardim Pintado — projeto de 1992, materializado e exposto pela primeira vez em 1996 no Museu Nacional de Arte Contemporânea, a que seguiu uma segunda instalação instalação na Fundação de Serralves em 1997. Esta nova instalação teve lugar numa magnífica leira contígua ao chamado Jardim das Coroas. Não se trata, na verdade, da apropriação de um jardim zen, mas antes da translação de um índice fundamental da cultura japonesa para o universo mental e artístico da Europa Ocidental numa era em que os modernismos e as vanguardas envergonhadas desde Hiroshima foram dando lugar a um misto de ironia e melancolia a que se convencionou chamar ‘condição pós-moderna’. Podemos, por outro lado e sem esforço, ver neste jardim ‘casimiriano’ uma homenagem ao primeiro e surpreendente encontro entre portugueses e japoneses no longínquo ano de 1541, ou 43. A leveza polida de três ovóides de mármore negro pousados sobre um imenso tapete de gravilha marca simultaneamente a proximidade e a diferença dos afetos e pensamentos de dois povos tão separados pela geografia, quanto unidos pela memória. Nada melhor do que a paisagem duriense e o contexto barroco da Casa de Mateus para garantir a esta obra a visitação que inteiramente merece.
O fio condutor de praticamente todas as obras que Manuel Casimiro vem criando desde 1969 é uma espécie de mistério irónico, de cunho pós-estruturalista, a que o próprio autor chama, por comodidade de linguagem, ‘ovóides’.
A estranheza destas formas ovaladas, na sua maioria negras, mas por vezes também azuis, amarelas, vermelhas e, mais recentemente, douradas, foi motivo de reflexão de, pelo menos, quarenta escritores, entre filósofos, historiadores, críticos de arte e romancistas europeus, de onde destaco nomes como os de Agustina Bessa-Luís, José Régio, Eduardo Lourenço, José Augusto França, Bernardo Pinto de Almeida, Paulo Cunha e Silva, Jean-François Lyotard, Pierre Restany, Jean-Hubert Martin, Michel Butor, Vincent Descombes, Christine Buci-Glucksman, René Prédal, Giulio Giorello, José Luis Molinuevo e Jonathan Lahey Dronsfield.
Se alguma metáfora fosse capaz de sintetizar a obra do mais genuíno artista pós-moderno português, esta seria porventura um voo de águia a várias altitudes e velocidades sobre a própria criação artística oferecida democraticamente às massas por meio do que Walter Benjamin chamou a ‘arte na era da sua reprodutibilidade técnica’.
Há, porém, um paradoxo delicioso, talvez muito anti-benjaminiano, na obra de Manuel Casimiro. Servindo-me de uma inspirada categoria antropológica de Alfred Gell, diria que o ‘index’ que assinala a presença de uma obra de Manuel Casimiro, o ovóide a que os que escreveram sobre o dito ‘index’ atribuíram mais de sessenta sinónimos, pela sua sublime presença, faz renascer, por assim dizer, a ‘obra única’, numa espécie de ubiquidade sensível que dá a ver a obra e o autor intervencionados e o autor que intervenciona fazendo nascer uma obra nova. Este desafio à anunciada destruição industrial da aura prolonga, embora num outro universo de referências, o resgate iniciado por Andy Warhol. Dos escombros nominalistas da anti-arte continua a devir, após todas as sentenças de morte, arte.
Mas, talvez melhor do que eu, um ensaísta, crítico e poeta, como Michel Butor (Cf. “Météore” in Colóquio arte, n.64, 1985), foi capaz de nos fazer sentir e pensar ao mesmo tempo o ovóide ‘casimiriano’ como o que é: um raro momento de verdadeira originalidade:
l’oeil de l’affamé
l’oeil de l’ange-absinthe
l’oeil de l’aveugle
l’oeil de l’encre
l’oeil de la colombe
l’oeil de la foule
l’oeil de la nuit blanche
l’oeil des astres morts
l’oeil des découvreurs
l’oeil des dieux vieillis
l’oeil des peintres
l’oeil des prophètes
l’oeil du corbeau
l’oeil du fauve
l’oeil du miracle
l’oeil du mur
l’oeil du phénix
l’oeil du sourd
Falta ainda descortinar os motivos que levaram Jean-François Lyotard a rever-se espontaneamente na obra de Manuel Casimiro quando, em Nice, lhe terá dito que na sua obra via o que ele próprio pensava sobre arte. Talvez (foi o que fiz) começar pelo que o pai da reflexão filosófica sobre o tempo pós-moderno escreveu no livro que contém a sua difícil mas fundamental tese de doutoramento, Discours, Figure:
“Ce livre-ci proteste: que le donné n’est pas un texte, qu’il y a en lui une épaisseur, ou plutôt une différence, constitutive, qui n’est pas à lire, mais à voir ; que cette différence, et la mobilité immobile qui la révèle, est ce qui ne cesse de s’oublier dans le signifier.” (Lyotard, J-F, 1971). "
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