Embora não saibamos bem qual é a origem do cravo, instrumento de teclado em que as cordas são dedilhadas, as primeiras referências documentais que podemos encontrar remontam ao séc. XIV. Dois séculos mais tarde, muitos compositores escreviam para o instrumento, com destaque para Domenico Scarlatti, Girolamo Frescobaldi, ou Johann Sebastian Bach.

Na transição do séc. XVII para o séc. XVIII, sob o signo do longuíssimo reinado de Luís XIV, o Rei-Sol, a corte francesa conhecia um ambiente particularmente favorável ao florescimento das artes, com a música a desempenhar um papel particular nas formas cerimoniais e de sociabilidade. Nascido em 1656, Marin Marais é contratado como músico do Palácio de Versalhes com 20 anos. Estudara com Jean-Baptiste Lully e Monsieur de Sainte-Colombe e vem a notabilizar-se, para além das inúmeras peças instrumentais, pela composição e direção de Ópera. Nascido 15 anos mais tarde, Antoine Forqueray cresceu rodeado pela música, já que seu pai era violista e mestre de baile. Com apenas 18 anos, é nomeado musicien ordinaire de La Chambre du Roy de Luís XIV. Estrelas maiores de um firmamento já em si particularmente brilhante, Marais e Forqueray eram considerados os maiores virtuosos intérpretes de viola da gamba. O estilo mais decidido de Forqueray, porém, valer lhe-ia a reputação de interpretar como um “demónio”, enquanto Marais o fazia como um “anjo”.

Jacques Ogg, virtuoso do cravo e do fortepiano, é professor no Royal Conservatory em Haia e foi discípulo de Gustav Leonhardt, a quem veio a suceder como professor de cravo nos Cursos Internacionais de Música Barroca da Casa de Mateus. Em mais um concerto dedicado aos públicos de Mateus, propõe-nos uma viagem pela Europa musical do séc. XVII, lembrando-nos que um mundo sem fronteiras, embora cheio dos inevitáveis anjos e diabos, é sempre a melhor forma de atingir uma expressão plena.