Em Maio de 2020, com uma necessidade de partilha paradoxalmente estimulada pelo confinamento, o compositor, violoncelista, performer e artista visual alemão Bo Wiget inicia no Facebook e no Instagram a série Melodia do Dia.

Até hoje, a cada manhã, Bo publica um desenho, uma criação visual que é também uma partitura improvável, a síntese musical de um desejo ou de um estado que encontra sempre uma expressão gráfica. A sua proposta, nascida da necessidade de continuar a comunicar música num momento em que o mundo se encontrava parado e vivíamos uma interrupção desestruturante dos nossos mecanismos de sociabilidade, assume um carácter disruptivo, potencial de transformação, quando convoca dois códigos distintos e deixa que a lógica de um contamine a lógica do outro, que a gramática de um assuma, como se encontrasse uma nova bifurcação genética, partículas da gramática do outro, até se transformar num novo código, numa nova possibilidade de expressão.

Cumprindo a tradição de celebrar anualmente o Bloomsday, dia que convoca todas as Odisseias, a blablaLab convida assim Bo Wiget para se juntar a Daniel Schvetz, Miquel Bernat, Eduardo Raon, Loup Abramovici, Ivo Nicolau e Beatriz Bagulho, performers e artistas de todas as linguagens, para testar ao vivo a musicalidade e a fisicalidade dos traços na materialidade pictórica dos sons. Juntos, começarão por encontrar uma dramaturgia das imagens que conduzirá depois a desenhos sucessivos de uma partitura aberta, estrutura feita de improvisação e de apropriação de fontes sonoras inesperadas, que se atualizará a cada sessão com a participação dos públicos.

Este espectáculo terá apresentações na FCM, no Espaço Miguel Torga, em São Martinho de Anta, e no espaço Maus Hábitos, no Porto, procurando na diversidade dos públicos a diversidade dos estímulos que farão deste espetáculo uma realidade orgânica, sempre nova a cada realização. Num território que celebra a utopia do desdobramento infinito das linguagens, procuramos na subversão dos códigos da notação musical e na perceção visual que infunde as notas de que se faz o nosso humor de cada dia, a nossa capacidade de resistir à aspereza das coisas convocando uma leitura poética da realidade.