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A Fundação da Casa de Mateus administra um património que é um exemplo de reinvestimento e aposta numa economia regional, solidamente ancorada no território.
A origem do património à guarda da Fundação remonta a um período anterior ao Morgadio de Mateus, instituído em 1641, logo após a Restauração da Independência. Este legado foi consistentemente enriquecido ao longo de sucessivas gerações de administradores da Casa, até à instituição da Fundação da Casa de Mateus que, tendo sido formalizada no dia 3 de Dezembro de 1970, celebra este ano o seu 55º aniversário.
De matriz originalmente fundiária, foi o turismo que, ao longo das últimas décadas, foi substituindo a economia primária que moldou a identidade da Casa e permitiu a preservação do essencial deste património ao longo de séculos. É hoje inevitável associar o sucesso deste empreendimento ao gesto assertivo e cosmopolita que presidiu à construção da própria Casa, concluída em 1744 com a intervenção do arquiteto italiano Nicolau Nasoni.
A imponente adega, cerca de um século mais antiga do que a Casa, é representativa da importância dessa economia assente na produção de vinho, em particular de Vinho do Porto, que se começou a produzir no século XVII e que teve direito a Região Demarcada em 1756.
Hoje, a Casa de Mateus, Fundação com missões de interesse social, continua a ser uma casa do Douro associada à sua matriz identitária de raiz agrícola e produção vinícola. O envolvimento da Fundação, no início do século XXI, na criação da Lavradores de Feitoria, Vinhos de Quinta SA, de que é acionista, foi a forma encontrada para dar continuidade e sentido a esta tradição agrícola, contribuindo para formas inovadoras de organização e associação que procuram dar resposta aos desafios que a Região enfrenta, entre a perda de valor do benefício, as profundas transformações no mercado do vinho e as consequências das alterações climáticas.
Este Legado complexo é fruto de uma visão consolidada numa continuidade rara, vital e dinâmica em que se conjugou uma forma de estar local, mas “sem paredes”, com o pensamento e a cultura a entrelaçarem-se nas contingências daquilo que hoje designamos por “interior”.
O ciclo “Cultura em Diálogo” e os Seminários “Repensar Portugal”, iniciados em 1978 pelo meu pai, Fernando Albuquerque (1941-2022) e Vasco Graça Moura (1942-2014), inscrevem-se numa tradição muito antiga que remonta ao período da monarquia dual, entre os séculos XVI e XVII, com as chamadas “Cortes na Aldeia”, descritas por Francisco Rodrigues Lobo, em 1619, nas quais teimosamente se praticava o exercício de reflexão e reconhecimento identitário que dá substância à nossa soberania. O seu significado confunde-se com o legado da Fundação da Casa de Mateus na medida em que o propósito do instituidor, o meu avô, D. Francisco de Albuquerque, foi manter uma tradição que vai muito para lá da ‘musealização’ de um acervo e que procura manter a Casa viva construindo, preservando e difundindo em permanência a sua própria cultura em todas as suas modalidades.
Como refere Fernando Mascarenhas (1945-2014) no “Sermão ao meu sucessor”, a tradição não consiste em repetir o passado, mas em reinterpretá-lo e em renová-lo estabelecendo com o presente um diálogo que tanto dá sentido ao passado como ilumina o futuro. É na compreensão da mudança que se mantém o essencial da tradição.
Pólo territorial com uma longa história, a Casa de Mateus conseguiu manter-se como exemplo de continuidade. Talvez o segredo esteja na forma como cultivou, ao longo dos séculos, a capacidade de somar e conjugar uma especificidade intrinsecamente local, com uma cultura fortemente europeia, como condição primeira para a sua própria afirmação.
Artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias.
Por Teresa Albuquerque.
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