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Em comemoração ao Dia Internacional das Bibliotecas, a Fundação da Casa de Mateus apresenta, como Documento do mês de Julho, a Carta recebida por D. José Maria de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos, 5º Morgado de Mateus, que lhe enviou o Bispo do Porto, João, agradecendo a Edição Monumental d’Os Lusíadas oferecida pelo 5º Morgado de Mateus, obra de destaque que compõe o acervo da Biblioteca da Casa de Mateus.
O espaço agora ocupado pela Biblioteca foi adequado em meados do século XX por D. Francisco de Albuquerque, tornando-se num símbolo da dedicação às letras e à aquisição do conhecimento que foi apanágio dos sucessivos representantes da Casa de Mateus.
Neste local, é possível consultar-se obras de teor religioso, histórico e jurídico, desde os Clássicos aos Modernos que perfazem o montante de 6.554 volumes constantes do Catálogo da Biblioteca.
Secção 07 – Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos (1806-1825)
D. José Maria do Carmo de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos é conhecido como o 5º Morgado de Mateus e responsável pela Edição Monumental de Os Lusíadas, de 1817, grande obra na qual se dedicou nos últimos anos de sua vida.
Entretanto, D. José Maria, antes, exerceu importantes funções em serviço do país e o representou em outros países, tendo, por isto, residido em alguns países estrangeiros.
Por morte de seu pai, em 1799, regressou a Portugal para tratar de assuntos familiares. Ocupou-se da organização do arquivo da Casa, reunindo em Gavetas a documentação mais antiga e importante da administração da Casa, prosseguindo o esforço iniciado por seu pai para proteger o património herdado. D. Luís António de Sousa Botelho Mourão tivera a preocupação de fazer vinculação de bens, renovação de prazos e demandas pela posse de vários vínculos, introduzindo um princípio de ordem que D. José Maria continuou ainda em vida de D. Leonor de Portugal. Foi para que se respeitasse este princípio que D. José Maria deixou instruções a seu filho para a administração da Casa: (…) Eis aqui o motivo de fazer-te este papel o qual principia por uma genealogia da nossa família e por mostrar-te o que a Casa adquiriu (…) Daqui virás a conhece-la no seu estado e nos direitos, estes são os fins porque este estudo genealógico é útil ao administrador da Casa (…).
D. José Maria foi um dos primeiros fidalgos a estudar no colégio dos Nobres, usufruindo de toda a experiência e métodos de ensino portugueses do Século das Luzes. Foi um dos primeiros alunos a frequentar a Universidade com as novas reformas implementadas pelo Marquês de Pombal. Entre 1772 a 1778 esteve em Coimbra, no Colégio de São Jerónimo, onde se formou em Matemática.
Após a sua formação académica, foi para Chaves enveredando pela carreira militar onde obteve grande reconhecimento pelo seu brilhante desempenho militar na região de Trás-os-Montes. Foi nomeado no dia 10 de Setembro de 1780 Alferes da 1ª Companhia no Regimento dos Dragões da Cavalaria de Chaves. No dia 24 de Março de 1784 foi nomeado Tenente e em Janeiro do ano seguinte Capitão.
Em 1791 no dia 11 de Julho foi nomeado Conselheiro do Rei e armado Cavaleiro da Ordem de Cristo na Real Colegiada da Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos freires da Corte.
No mesmo ano, foi dada confirmação por decreto do dia 30 de Setembro, do título de Ministro enviado à Corte de Estocolmo (Suécia). Na mesma altura, no dia 8 de Outubro, recebeu o benefício de tença de 12 000 réis e com esta nomeação recebe o título de Cavaleiro.
Este será o ponto de partida de uma carreira diplomática imprevista, no entanto verifica-se que em todos os cargos diplomáticos que foi desempenhando em vários países, revelou um especial interesse pelas questões militares. Segundo Anne Gallut, consta que no ano de 1793 se encarregou do comércio da Suécia, expedindo vários despachos com vários detalhes precisos sobre armas, marinha e bancos do mesmo país. Participou em várias missões diplomáticas: em 1795 esteve em Hamburgo, passou pela capital da Prússia, onde permaneceu até 1797, regressando em Julho. Ainda em 1797, foi para Copenhaga (Dinamarca) com o cargo de Ministro Plenipotenciário que desempenhou até Abril de 1799.
Em 1801 foi para Espanha como Embaixador de Portugal em Madrid, onde foi encarregado, juntamente com a Espanha, de negociar a paz entre Portugal e França. Não obteve o sucesso esperado e acabou mesmo por criar alguns dissabores com a Espanha. Depois de muito empenho e esforço, o Morgado de Mateus conseguiu negociar a paz com ambos os países. Nesse mesmo ano foi enviado extraordinário à Corte de Viena de Áustria para tratar dos interesses de Portugal no congresso de Amiens.
Foi nomeado Ministro de Portugal junto do primeiro cônsul Bonaparte, cargo que desempenhou brilhantemente. No entanto, foi a questão do general Lannes, e outras intrigas e invejas de que diz ter sido alvo devido à sua nomeação para a embaixada de Paris, que originou a sua transferência para a corte da Rússia, sendo substituído em Paris por D. Lourenço de Lima. Esta situação levou-o a redigir uma carta ao Príncipe Regente D. João VI expondo os factos de queixa contra os seus inimigos. Não é possível confirmar se esta carta foi enviada ou não, uma vez que o próprio D. José Maria refere que só deve (…) ser entregue nas mais oportunas circunstâncias (…).
Em 1806, quando se encontrava em Berlim, recebeu a notícia que tinha sido admitido como membro da Academia Real das Ciências de Lisboa.
Dedicou-se a leitura das edições d’Os Lusíadas e a publicação de uma edição, no ano de 1817, constituída por 210 exemplares em papel, com 13 gravuras, uma por cada Canto, duas de Luis de Camões e uma de D. José Maria, e contém ainda uma Vida de Camões e notas do editor.
Os 210 exemplares foram oferecidos às Bibliotecas Reais e a amigos e conhecidos em Portugal e no estrangeiro (cf. Lista de envio do exemplar da Edição Monumental d’Os Lusíadas 1817).
Nesta lista está o Bispo do Porto, João, que remeteu ao D. José Maria uma carta de agradecimento pelo recebimento da Edição Monumental d’Os Lusíadas e enaltecendo a importância de sua Edição para a nação portuguesa.
A nobre Carta figura como o nosso Documento do Mês de Julho de 2021, dia em que se comemora o Dia Internacional das Bibliotecas e que marca a homenagem da Secção 07 da Casa de Mateus, a administração de D. José Maria, cujo nome se destaca na Biblioteca da Casa de Mateus.
Carta recebida de D. José Maria que lhe enviou o Bispo do Porto, João, agradecendo a edição dos Lusíadas que este lhe mandou e louvando a importância desta edição para a nação portuguesa.
Porto. 1818/09/29. Português. 2fls.
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