QUINTETO COM CLARINETE

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SONS NA PAISAGEM | QUINTETO COM CLARINETE
17 de Setembro | 17h00

A abrir o ciclo Sons na Paisagem, obras de Mozart e Brahms.

A acompanhar o final do verão e o início do outono, o ciclo Arte na Paisagem detém-se nas paisagens sonoras que reverberam os séculos da história de Mateus. A abrir um pequeno ciclo de concertos de música de câmara, o Quinteto com Clarinete reunido pela Associação Portuguesa dos Amigos da Música interpreta duas obras emblemáticas, de compositores tão determinantes como Mozart e Brahms, separadas entre si pelos cem anos que durou o séc. XIX.


«A ascensão da música de câmara, música realizada não na igreja, nem no teatro de ópera, mas sim nos salões da corte ou nas salas da burguesia,.acontece durante os séculos XVII e XVIII, a que corresponde o período barroco. No período clássico, a partir de 1750, a música de câmara separa-se da música concertante. De entre os principais agrupamentos de música de câmara, destacam-se o Quarteto de Cordas e o Quinteto de Sopros. A junção das cordas com os sopros origina grande variedade de agrupamentos de câmara, destacando-se aquele que ouviremos hoje, o Quinteto que reúne o Quarteto de Cordas com o Clarinete.


Wolfgang Amadeus Mozart, a par de Haydn e Beethoven, é o grande mestre do classicismo musical. Este quinteto teve a sua estreia em Viena, no dia 22/12/1789, meses depois da eclosão da Revolução Francesa, que desencadearia uma enorme mudança no ambiente político, social e cultural da Europa e do mundo.


Com Johannes Brahms, encontramo-nos numa época totalmente diferente, com quase um século de intervalo. Atravessámos já grande parte do período romântico (c. 1815-1900), mas Brahms surge como uma espécie de clássico, pelo seu apego aos valores da forma em detrimento do conteúdo, identificado como um adepto da música “pura”, expressiva em si mesma.

De modo similar a Mozart, que se inspirara em Anton Stadler (1753-1812), foi a admiração de Brahms por Richard Mühlfeld (1856-1907), um dos maiores clarinetistas do seu tempo, que originou esta obra. O paralelo com o quinteto de Mozart é muito curioso: passados 102 anos, Brahms de algum modo inspira-se no modelo de Mozart, usando os mesmos instrumentos – incluindo o clarinete em lá - , a mesma estrutura em 4 andamentos, e a própria duração da obra é semelhante, com cerca de 35 minutos.»

Casa de Mateus

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS AMIGOS DA MÚSICA


W. A. Mozart (1756/1791)

Quinteto em Lá Maior K 581


J. Brahms (1833/1897)

Quinteto em Si menor op. 115


QUINTETO COM CLARINETE

Nuno Pinto (clarinete)

Ana Madalena Ribeiro (violino)

Evgeny Makhtin (violino)

Jorge Alves (viola)

Filipe Quaresma (violoncelo)


O acesso está sujeito à obtenção de um título de entrada na Casa, no valor mínimo de 6,00 €. Em alternativa, aproveite uma das modalidades de Visita à Casa, com inclusão do acesso ao evento.

For more information, contact us through the following e-mail: cultura@casademateus.pt

Notas ao Programa  

Francisco Soares de Melo


Dois Quintetos para Cordas e Clarinete, dois autores Vienenses separados por 100 anos: Mozart e Brahms

Será a Música de Câmara um “parente pobre” da música clássica? Não, de modo algum! A exigência técnica e expressiva da Música de Câmara é muito alta, pois cada parte é autónoma e individualizada.

A sua ascensão acontece durante os séculos XVII e XVIII, a que corresponde o período barroco. A designação italiana “da camera” corresponde ao lugar onde é interpretada: não é na igreja (“da chiesa”) nem no teatro (ópera), mas sim nos salões da corte ou nas salas da burguesia.

Em 1752, o compositor Quantz, músico da corte do imperador Frederico II da Prússia durante 32 anos, elogiava-a com as seguintes palavras, no seu tratado: “o estilo de câmara permite uma maior elaboração e artifício que o estilo teatral”. A partir do período clássico, que se inicia cerca de 1750, a música de câmara separa-se da música concertante, passando esta a ser para um público numeroso, e reunindo instrumentos, coro e orquestra. De entre os principais agrupamentos de música de câmara, destacam-se o Quarteto de Cordas (1º violino, 2º violino, viola de arco e violoncelo) e o Quinteto de Sopros (flauta, oboé, clarinete, fagote e trompa). O primeiro que emerge é o Quarteto de Cordas, nomeadamente por intermédio dos paladinos do classicismo: Haydn, com mais de 70 quartetos, e Mozart, com 24. A junção das cordas com os sopros origina grande variedade de agrupamentos de câmara, destacando-se aquele que ouviremos hoje, o Quinteto que reúne o Quarteto de Cordas com o Clarinete.


W. A. Mozart | Quinteto em Lá Maior K. 581 (1789)


Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), a par de Haydn e Beethoven, é o grande mestre do classicismo musical - que preenche e ultrapassa toda a 2ª metade do séc. XVIII (c. 1750- c. 1815). A sua genialidade precoce, que encantou a Europa do seu tempo, traduziu-se numa enorme criatividade musical e numerosas obras-primas, em todos os géneros vocais e instrumentais cultivados na sua época, da Música de Câmara à Sonata, do Concerto à Sinfonia, da Missa à Ópera, no decurso de uma curta vida de apenas 35 anos!

Aos 25 anos, contra a vontade do seu pai Leopold, também compositor, casa com Constanze Weber e estabelece-se definitivamente em Viena. Aqui compõe as suas mais relevantes obras e morre em 1791.

Este quinteto teve a sua estreia em Viena, no dia 22/12/1789. Recorde-se que nesse ano começou a Revolução Francesa, no dia 14 de julho, que desencadearia uma enorme mudança no ambiente político, social e cultural da Europa e do mundo.

Na génese desta obra está a grande ligação que Mozart teve com Anton Stadler (1753-1812), um dos maiores clarinetistas do seu tempo, que estreou este Quinteto e o Concerto para Clarinete e Orquestra. De facto, muitas afinidades podem ser estabelecidas entre estas duas composições, nomeadamente na riqueza e semelhança das ideias melódicas e no papel absolutamente decisivo e virtuosístico do clarinete.

A divisão da obra em 4 partes corresponde ao padrão que o classicismo estabeleceu para os principais géneros musicais, em particular a Sinfonia, a Sonata a solo ou em duo e o Quarteto de Cordas, alternando andamentos rápidos com lentos, bem como ambientes musicais alegres ou exuberantes com outros melancólicos ou contemplativos. Vejamos, numa pequena síntese.

(1) Allegro, compasso 2/2, lá maior. Está construído na forma-sonata, com duas ideias melódicas contrastantes que se apresentam na Exposição, dialogam entre si no Desenvolvimento e reaparecem integralmente na re-Exposição, mas agora unidas pela mesma tonalidade (lá maior).

(2) Larghetto, 3/4, ré maior. O andamento lento, contrastante também na tonalidade, tem uma das mais belas melodias mozarteanas, de um intimismo e expressividade notável. Passados dois anos, o Concerto para Clarinete evoca de modo sublime esta melodia.

(3) Menuetto /Trio, 3/4, lá maior (trio em menor). Com uma estrutura alegre e dançante – de facto, o “Minueto” é uma antiga dança de corte -, apresenta grande contraste com as duas secções designadas por “Trio”.

(4) Allegretto con Variazioni, 2/2, lá maior. Como o nome indica, é um conjunto de 5 ricas e elaboradas variações, que permite a cada um dos instrumentos destacar-se individualmente numa criação musical conjunta. O tema é alegre e faz lembrar melodias do personagem Papagheno, da Flauta Mágica, a última ópera que Mozart compõe.


J. Brahms | Quinteto em Si menor op. 115 (1891)


Com Johannes Brahms (1833-97), encontramo-nos numa época totalmente diferente, com quase um século de intervalo: de facto, entre a morte de Mozart e Brahms decorrem 106 anos, e entre os seus Quintetos de Cordas e Clarinete há um intervalo de 102 anos.

Atravessámos já grande parte do período romântico (c. 1815-1900), mas Brahms surge como uma espécie de clássico, pelo seu apego aos valores da forma em detrimento do conteúdo, identificado como um adepto da música “pura”, expressiva em si mesmo, ligado à estética autónoma de Hanslick, em contraste com a estética heterónima representada por Wagner ou Liszt.

Em Düsseldorf, com 20 anos, Robert Schumann e a sua esposa Clara recebem-no de braços abertos. Robert escreve um famoso artigo na Nova Gazeta Musical, intitulado Novos caminhos, onde lhe chamava "jovem águia". A partir dos 40 anos estabelece-se em Viena, onde morre em 1897, e a sua vida de compositor é indissociável da atividade como pianista. A sua obra representa a fusão da expressividade romântica com a preocupação formal clássica.

Entre os músicos com quem melhor se relacionou, conta-se o famoso violinista Joseph Joachim (1831-1907), que se tornaria um de seus maiores amigos, tendo estreado o presente quinteto e o concerto para violino e orquestra.

O último período composicional de Brahms começa quando tem 57 anos: as obras tornam-se mais depuradas e concentradas, com destaque para a música de câmara e de piano, sendo este Quinteto para clarinete um bom exemplo.

De modo similar a Mozart, foi a admiração de Brahms por Richard Mühlfeld (1856-1907), um dos maiores clarinetistas do seu tempo, que originou esta obra. Brahms tinha decidido terminar a sua atividade de compositor em 1890, com o Quinteto para Cordas op. 111. Foi Mühlfeld, pelo seu virtuosismo e expressividade, que convenceu Brahms a retomar a composição, tendo estreado este quinteto em 24/11/1891, juntamente com o Trio para Clarinete, Piano e Violino op. 114, em Meiningem (centro da Alemanha).

O paralelo com o quinteto de Mozart é muito curioso: passados 102 anos, Brahms de algum modo inspira-se no modelo de Mozart, usando os mesmos instrumentos – incluindo o clarinete em lá - , a mesma estrutura em 4 andamentos, e a própria duração da obra e semelhante, com cerca de 35 minutos.

Vejamos, sucintamente.

(1) Allegro, compasso 6/8, si menor. Igualmente contruído na forma-sonata, com duas ideias melódicas essenciais. O clima gerado é caracterizado como “outonal” por alguns autores.

(2) Adagio, 3/4, si maior. O andamento lento, contrastante também na tonalidade, tendo uma forma semelhante ao de Mozart: A-B-A.

(3) Andantino - Presto, ma con sentimento, 2/4, si menor. É o andamento mais curto, destacando-se o diálogo entre o clarinete e o 1º. violino.

(4) Con moto, 2/4, si menor. A semelhança formal com o 4º andamento de Mozart é clara: um tema seguido das mesmas 5 variações, que permite a cada um dos instrumentos destacar-se individualmente numa criação musical arrebatadora. Em contraste, na parte final evoca melodias do 1º andamento, um procedimento que é conhecido por “princípio cíclico” e que foi muito acarinhado pela geração romântica.


Em jeito de conclusão, refira-se que a data da estreia deste quinteto em 24/11/1891, do qual mostrámos tantas afinidades com o de Mozart, também é extraordinária: ocorre precisamente 100 anos depois da morte de Mozart.

Passados dias, exatamente 100 anos e uma semana após a morte de Mozart em 5/12/1791, na estreia na capital Berlim em 12/12/1091, esta evocação foi seguramente recordada pelo público e pelos mesmos músicos, que interpretaram também o Trio para Clarinete, Piano e Violino: Mühlfeld no clarinete, Joachim no violino e o próprio Brahms no Piano!


Francisco Soares de Melo, 13/09/2023, no dia do nascimento dos músicos e compositores Clara Schumann (1819-1896) e Giralomo Frescobaldi (1583-1643), e dos escritores Aquilino Ribeiro (1885-1963) e Natália Correia (13/09/1923-16/03/1993

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